Peça de Natal Evangélica "Um Natal em Família!"

 


Como já se tornou tradição na minha Igreja eu escrever peças para o Natal [assim como se tornou tradição eu trazer essas peças aqui para o blog], segue mais uma, que escrevi e apresentamos no natal do ano passado, isto é, 2023.

A gravação não ficou muito boa, porque o celular ficou no fundo e os microfones não funcionaram no dia, porém, o texto é bom [eu escrevi e gostei huahaua] e se alguém tiver interesse em apresentar, está disponível.

Só peço que, como sempre, se apresentarem e gravarem, deem um jeito de colocar na net e me enviar, eu adoraria assistir. E lembrem que há outras peças de Natal disponíveis aqui, casos vocês queiram. Enfim, espero que gostem, se divirtam e sejam edificados.

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UM NATAL EM FAMÍLIA

SINOPSE: Receber a família para o Natal é sempre uma alegria, não é mesmo? Mas e quando sua família vive em pé de guerra e você pretende causar uma boa impressão aos seus convidados novos? Venha se divertir ao assistir essa peça!

PERSONAGENS:

RENATO: O pai da família que marcou a ceia de Natal com os pastores, começa a peça com roupas simples e troca para o final;

CAROLINA: a mãe de família que estará preocupada em dar uma boa impressão ao pastor, começa a peça com um roupão sobre a roupa, creme branco no rosto e touca no cabelo, troca para o final;

ZÉ TERROR DOS BANDIDOS: O guarda noturno que fica se convidando pro Natal, usa aqueles coletes de guarda noturno e tem um apito;

LUIZA: filha da vizinha fofoqueira, usa roupa parecida com a irmã;

LUZIA: filha da vizinha fofoqueira, usa roupa parecida com a irmã;

BIA: a filha mais velha do casal, que não sabe nada de Bíblia e quer um celular;

FRED: filho mais novo do casal que só quer saber de ver video do super-robô;

AGNALDO: irmão folgado da Carolina, que vai chegar para atrapalhar tudo;

ZORAIDE: mãe do Renato que implica com a nora;

JURANDIR: pai do Renato, que erra todos os ditos populares;

PASTOR: convidado para a ceia;

PASTORA: convidada para a ceia;

FILHOS DOS PASTORES: sem fala, apenas chegam e brincam com as crianças;

SOLANGE: vizinha fofoqueira que só aparece no final da peça.



CENÁRIO: A sala de uma casa com sofá, televisão e bastante decoração de Natal: árvore, almofadas, etc. Algumas roupas espalhadas pelo cenário e um cesto pra recolher a roupa.

Cortina se abre. Renato está no sofá, cochilando. Carolina entra usando um roupão, tem uma touca nos cabelos e um creme branco no rosto. Ela senta ao lado de Renato.

CAROLINA: Renato!! (ela começa a chacoalhá-lo) Renato!! RENAAATOOO!!

RENATO: (acorda e dá um grito de susto) Ai que susto, Carolina. Você não pode me acordar gritando com esse creme na cara não, eu já penso que é uma alma penada.

CAROLINA: Pois é muito pior que uma alma penada. É a sua esposa furiosa!! Por que você não me acordou?!

RENATO: Desculpa, benzinho, mas acho que eu cochilei assistindo o jogo.

CAROLINA: Ai minha pressão! Minha pressão! Agora são quase sete horas, véspera de Natal. Eu tenho essa casa pra ajeitar, ceia pra terminar e eu ainda tenho que me arrumar. Por que você foi chamar os pastores pra virem aqui em casa, hein?!

RENATO: Eles acabaram de chegar na Igreja, eu achei que seria uma boa forma de enturmar a família deles. Você não tem dó deles, Carolina?!

CAROLINA: Tenho, claro que tenho, mas você esqueceu de um detalhe: nós também acabamos de chegar na Igreja. Nosso batismo foi mês passado!

RENATO: E o que é que isso tem a ver com chamar o pastor pra passar o Natal aqui em casa, Carolina?

CAROLINA: Tem tudo a ver! Imagina se a gente dá alguma bola fora? Até semana passada eu ainda achava que não podia orar de braços cruzados senão Deus não ouvia. Foi a diaconisa Lurdinha que me disse que uma coisa não ter a ver com a outra.

RENATO: Acho que você está procurando pelo em ovo.

CAROLINA: Run! Acho-te uma graça. Seis e meia da tarde, 24 de dezembro, eu nem tô pronta ainda e com um monte de coisa pra fazer, e o bonito sentadão no sofá. Nananinanão, pode pegar esse cesto e recolher a roupa espalhada. (estende o cesto para ele)

RENATO: Mas eu preciso descansar um pouco! E tem outra, a Bíblia diz que o serviço doméstico é da mulher. (estende o cesto de volta)

CAROLINA: Que Bíblia que diz isso?! Só se for a mesma Bíblia que diz que o marido pode passar o dia inteiro roncando sem fazer nada. (estende o cesto de volta)

RENATO: Pois… pois… a Bíblia diz que a mulher tem que ser submissa ao marido. Quero ver você sair dessa! (estende o cesto novamente)

CAROLINA: Pois saiba que a Bíblia diz que o marido tem que fazer tudo pela mulher, a ponto de morrer por ela. (estende o cesto novamente) Vamos, Renato, me ajuda aqui, vai! Eu vou lá dentro terminar de me arrumar e de preparar a Ceia. Esse Natal tem tudo para dar certo (e sai cantarolando).

Zé vem pelo corredor e toca campainha, Renato vai atender.

ZÉ: Feliz Natal, doutor. Eu sou o...

RENATO: Ah eu sei, você é o Zé, o guardinha que faz ronda aqui no bairro.

ZÉ: Pera aí, que assim o senhor desmoraliza minha categoria. Eu sou o Zé, mais conhecido como o Terror dos Bandidos. Quando eu toco o meu apito, os meliantes saem correndo de medo. [e toca o apito duas vezes]

RENATO: Ah… entendi.

ZÉ: Eu vim pedir a caixinha de Natal. O senhor sabe como é, uma contribuição para os zelosos trabalhadores que dão a vida pela segurança dos outros [e coloca a mão no coração].

Renato coloca uma nota na caixinha.

ZÉ: Obrigado, Deus lhe pague [dá uma olhada ao redor pela casa] Tô vendo que vai rolar uma ceia de Natal aqui.

RENATO: Pois é.

ZÉ: E vai ter muita comida, doutor?

RENATO: Ah, muita comida não. Geralmente minha esposa faz macarrão... chester... peru… tender… maionese… lasanha [a cada nova comida falada por Renato, Zé lembe os beiços]

ZÉ: Eu adoro lasanha!

Renato e Zé ficam em silêncio alguns segundos se encarando

ZÉ: Bom, eu preciso ir, a não ser que o senhor me convide pra ficar. Hahaha Brincadeira, brincadeira… a não ser que o senhor esteja falando sério. Hahaha brincadeira, brincadeira… não está mesmo falando sério? Hahaha brincadeira. Feliz Natal, doutor

E sai pelo corredor. Luzia e Luiza vêm pelo corredor e tocam a campainha, Renato vai atender.

RENATO: Feliz Natal, meninas.

LUZIA: Feliz Natal. Tio, minha mãe pediu um pouco de açúcar emprestado.

RENATO: Claro, eu vou lá buscar (entra pela porta e volta com um pacote de açúcar) Pronto, pode levar.

LUIZA: Obrigada, viu. Minha mãe também queria saber se é verdade que vocês vão receber uns pastores aqui na sua casa hoje a noite?

RENATO: Sim, é verdade. Mas como é que ela soube?

LUIZA: Ah, um passarinho azul contou. Ela queria saber também como eles são. Eles são bonitos? Eles são ricos? Porque dizem por aí que todo pastor é rico porque rouba dinheiro do povo.

RENATO: Claro que não! Eles são humildes, gente como a gente.

LUZIA: E você vai receber eles nessa casa bagunçada?

RENATO: Escuta, meninas, eu tenho bastante coisa pra fazer, não consigo ficar aqui batendo papo.

MENINAS: Feliz Natal (e saem pelo corredor).

RENATO: Mas que povo fofoqueiro!

Bia e Fred entram pela porta discutindo

BIA: Pai, o Fred fica me irritando!

FRED: Eu só quero ver vídeos do Super robô.

RENATO: Venham aqui, sentem no sofá, eu quero conversar uma coisa com vocês (os três sentam no sofá). Hoje a noite nós vamos receber a visita da família do pastor aqui em casa, então vocês dois têm que se comportar, entenderam? Você estudaram as perguntas bíblicas que a sua mãe preparou? Eu vou perguntar e quero ver se vocês sabem (pega um caderninho). Fred, você sabe quem foi o homem que Deus mandou fazer uma arca porque ia cair um dilúvio?

FRED: Hmm… não...

RENATO: Isso mesmo, Noé. Bia, quem foi o homem que subiu numa árvore para ver Jesus passar?

BIA: Essa eu sei: Tadeu.

RENATO: Errou. Foi Zaqueu.

BIA: Zaqueu… Tadeu… Tudo termina com “eu”.

RENATO: Ai meu Deus! E vocês sabem dizer quem foi o filho do rei Davi que se rebelou contra ele?

BIA: Essa eu sei… eu sei… foi aquele homem que era porteiro.

RENATO: Porteiro?! Como assim?!

BIA: Sim, porque onde ele ia ele “Abria o salão”.

RENATO: Absalão, menina. Olha, já pro quarto pra vocês terminarem de se arrumar, vai (os dois saem pela porta).

CAROLINA: (entra pela porta) Meu bem, eu correndo lá dentro e você sentado sem fazer nada?! Vamos, Renato, vamos! (e sai de novo pela porta)

RENATO: (enquanto pega, fica reclamando) Tudo eu! Tudo eu! Renato, faz isso! Renato, faz aquilo. Renato, mata a barata! Renato, conserta o telhado! Renato, segura a parede que tá caindo. E pensar que elas saíram a nossa costela. Pois eu quero a minha costela de volta

Renato volta a recolher as coisas. A campainha toca e Renato vai atender.

AGNALDO: Fala Rê! Meu grande!!

RENATO: Agnaldo! O que você faz aqui?!

AGNALDO: O que eu faço aqui?! Hahaha… Que piada boa! Eu vim pra ceia de Natal, ué? (ele diz, sentando no sofá, colocando o pé sobre a mesinha e pegando o controle da TV).

RENATO: Mas a sua irmã tinha dito que você ia passar o Natal com toda sua família em Mongaguá!

AGNALDO: Eu sei, mas a mamãe me expulsou da viagem e eu não faço ideia do motivo.

RENATO: Pois eu consigo pensar em um milhão de motivos pra isso ter acontecido.

AGNALDO: Oi?! O que foi que você disse?!

RENATO: Eu disse que você não pode chegar aqui sete da noite e se convidar pra nossa Ceia, sua irmã vai ficar uma fera!

AGNALDO: Vai nada, ela adora o irmão caçula! Ô cara, faz um favorzinho pro pai? Vai buscar uma coisinha pra eu beber?

RENATO: Agnaldo, aqui a gente não bebe mais.

AGNALDO: Ah, é verdade. Bom, mas deve ter uns aperitivos, né?! Hahaha… Quer saber? Pode deixar que eu me viro na cozinha (sai pela porta).

Renato faz um sinal fingindo estar batendo nele. A campainha toca novamente e Renato vai atender.

ZORAIDE: Feliz Natal, Renatinho!

RENATO: Mamãe! O que a senhora está fazendo aqui?!

ZORAIDE: Isso é jeito de se falar com a própria mãe?! Até parece que viu uma assombração!

RENATO: É que eu achei que a senhora e o papai fossem pro Guarujá.

ZORAIDE: Nós íamos, mas o pneu do carro furou e o borracheiro disse que só consegue arrumar depois do Natal, então eu falei pro seu pai pra gente vir passar o Natal com vocês. Olha que surpresa maravilhosa!

RENATO: Super maravilhosa!

ZORAIDE: Olha, a mamãe trouxe um presentinho pra você! (estende o presente)

RENATO: Que isso, mãe?! Não precisava! Eu nem posso aceitar, imagina, afinal, sou eu que tenho que presentear a senhora e o papai… O que é, hein? (toma o presente das mãos da mãe)

ZORAIDE: Ai, você sempre foi ansioso, né Renatinho? Deixa seu presente aí pra abrir mais tarde e vai ajudar seu pai com as malas.

RENATO: Malas?! Que história é essa de malas?!

ZORAIDE: Como a gente não vai mais viajar, eu decidi passar o feriado todo aqui com vocês! Eu acho até que vai ser uma ótima oportunidade pra eu ensinar a sua esposa a ser boa dona de casa, porque ela está precisando. Olha só essa bagunça!

RENATO: Mas mãe…

ZORAIDE: Sem mas nem meio mas, Renatinho. Vai lá ajudar seu pai, anda…

Renato sai pelo corredor

ZORAIDE: Olha a bagunça dessa casa! (pega o cesto e continua recolhendo a roupa suja)

Carolina vem puxando Agnaldo pela orelha. Os dois filhos vêm atrás rindo.

AGNALDO: Ai! Ai! Tá doendo! Que isso, mana?! Achei que você ia ficar feliz e ver seu irmãozinho aqui. Eu não tenho pra onde ir!

CAROLINA: Não quero saber, se vira, você não nasceu quadrado. Esse ano eu quero passar o Natal com o meu marido e os meus filhos! (para na frente de Zoraide). Dona Zoraide!

ZORAIDE: Oi Carolina querida! Nossa, você está meio pálida, está tudo bem?

CAROLINA: Dona Zoraide, o que a senhora está fazendo aqui?

ZORAIDE: Ué, o Renatinho não contou? Nós viemos passar a ceia de Natal com vocês!

AGNALDO: Olha aí! Olha aí! Se a velha pode ficar, eu também posso!

ZORAIDE: Que história é essa de velha? Eu estou na flor da idade.

AGNALDO: Ah sim, eu posso imaginar a flor que a senhora é: cravo de defunto.

ZORAIDE: Mas você é mesmo muito abusado, né Agnaldo? (fala dando um tapa em Agnaldo) Pois saiba que quando eu tinha a sua idade, eu cheguei até a ser Miss.

AGNALDO: Só se foi a Mis-sericórdia.

Renato vem com Jurandir entrando carregando várias malas.

CAROLINA: Que malas são essas?!

ZORAIDE: Nós vamos passar tooodo o feriado com vocês, querida!

CAROLINA: Ai minha pressão! Minha pressão! Renato!!! Precisamos conversar agora. (Puxa Renato para o canto) Que história é essa dos seus pais passarem o feriado aqui?

RENATO: Eu também não sei, meu bem, de repente eles chegaram trazendo esse monte de malas. Só que não foram só meus pais que apareceram do nada, né?

CAROLINA: Ai, Renato, nossas famílias juntas na Ceia de Natal com um pastor não vai dar muito certo.

JURANDIR: Ô Carolina, a gente ficou o dia todo atrás desse bendito pneu e eu tô com o estômago nas costas. Tem algo pra gente? Podem ser uns aperitivos, você conhece o que diz o ditado: de grão em grão o coração não sente… não, é: o grão sente o coração… os olhos do coração enchem o grão… é por aí, minha filha.

CAROLINA: Claro, seu Jurandir. Fred, meu filho, leva seu avô lá pra cozinha.

Fred e Jurandir saem pela porta

BIA: Vovó, a senhora veio me dar um celular novo de Natal?

ZORAIDE: Ai, meu bem, na confusão das malas acho que deixei seu presentinho lá em casa.

BIA: E você, tio Agnaldo, vai me dar um celular novo de Natal?

AGNALDO: Eu?! Sai fora, menina.

BIA: Se vocês não vão me dar meu celular, O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI?!

CAROLINA: Bia, você não quer ir pro seu quarto terminar de se arrumar? (Bia sai pela porta) E a senhora, venha, vou te levar pro quarto de hóspedes (sai pela porta com a sogra)

Luiza e Luzia vem pelo corredor e tocam a campainha, Renato vai atender.

RENATO: O que foi agora, meninas?

LUZIA: Minha mãe quer um pouco de café emprestado.

RENATO: Vou ver, espera um pouco (entra pela porta e volta com um pacote de café) Pronto, mais alguma coisa? Já sei, um passarinho azul contou que tem visita aqui em casa?

LUIZA: Não, nenhum passarinho contou, a gente viu pela janela. Minha mãe falou que hoje em dia está muito caro dar uma ceia de Natal. Então ela quer saber quanto você ganha por mês.

RENATO: Fala pra sua mãe… (respira fundo) que a gente conversa outra hora.

MENINAS: Tá bom, feliz Natal (e saem pelo corredor)

Renato bufa e entra pela porta

AGNALDO: Bom, eu vou ver se consigo beliscar alguma coisa na cozinha (sai e volta rapidamente com Carolina segurando pela orelha)

CAROLINA: O senhorito vai pegar o caminho do beco agora mesmo. Pode ir embora vamos!

AGNALDO: Mas maninha, eu não tenho pra onde ir. Você não tem dó de mim, o seu irmãozinho? (faz cara de coitado)

CAROLINA: Não tenho dó não, quem gosta de chulé é unha de pé. Pode ir embora!

Carolina e Agnaldo começam a discutir

ZORAIDE: (entra pela porta seguida de Jurandir) Olha lá, Jurandir. Além de não saber fazer uma ceia de Natal decente, ainda maltrata as visitas.

CAROLINA: Que história é essa de eu não saber fazer a ceia??

JURANDIR: Ô minha filha, não é querendo reclamar, mas a ceia não está boa, só de ver a gente percebe. Eu sei o que diz o ditado: cavalo dado não se olha a água fria… não espera: gato e água não gostam de cavalo… cavalo tem medo de gato frio… enfim, eu sei o que o ditado diz, mas a ceia não está boa.

CAROLINA: Bem, já que vocês não gostaram, vocês podem ir embora também!!

Os quatro começam a discutir. Renato entra.

RENATO: Calma, gente… calma… CALMA, GENTE, VAMOS TODOS MANTER A CALMA.

ZORAIDE: Filhinho, a sua esposa nos expulsou, não é Jurandir?

JURANDIR: Renato, sua mulher foi muito mal educada. E olha que eu detesto fazer tempestade em dois pássaros voando. Quero dizer: na tempestade os pássaros não voam… a tempestade é melhor que um pássaro na mão.. enfim, é isso aí.

CAROLINA: Acontece que você só sabem reclamar.

AGNALDO: Eu não reclamei de nada, por que você estava me expulsando também?

CAROLINA: Porque você é folgado.

ZORAIDE: Renatinho, você não vai fazer nada?

RENATO: Bem...

ZORAIDE: Não precisa dizer nada. Vamos embora, Jurandir. Eu sei quando não sou bem-vinda num lugar.

Zoraide e Jurandir saem pelo corredor.

AGNALDO: Eu também vou embora. Que coisa feia, maninha!

Agnaldo também sai pelo corredor. Carolina entra para terminar de se arrumar e Renato toma o cesto e termina de recolher as roupas. Zé vem pelo corredor e toca campainha, Renato vai atender.

ZÉ: Feliz Natal, doutor.

RENATO: Fala, Zé. Não vai me dizer que você veio pedir dinheiro pra caixinha, se eu acabei de contribuir.

ZÉ: Eu sei, doutor. Mas aquela era a caixinha do Natal, e essa é a do Ano Novo. Repara só que a cor mudou.

RENATO: Ué, então você vem me pedir no Ano Novo.

ZÉ: Sabe o que é, doutor? Muitos moradores vão viajar no Ano Novo e a gente fica sem contribuição. Por isso esse ano a gente tá pedindo mais cedo.

Renato contribui meio desconfiado.

ZÉ: Deus lhe pague. Deus lhe pague. [dá uma olhadinha ao redor] Quer dizer que a comilança não começou ainda, mas parece que tem lugar vago na mesa.

RENATO: Não tem lugar vago porque nós vamos receber alguns amigos.

ZÉ: E por acaso algum desses amigos é um segurança noturno?

RENATO: Não. Não é.

Renato e Zé ficam em silêncio alguns segundos, se encarando.

ZÉ: Bom, então eu já vou indo. Tenham uma ótima ceia, cheia de macarrão… tender… lasanha!!!

E sai pelo corredor As meninas vem pelo corredor e tocam a campainha, Renato vai atender.

LUZIA: Minha mãe pediu um pouco de farinha emprestado.

Renato sai e volta com a farinha

LUIZA: Minha mãe também queria saber se está tudo bem. A gente viu seus parentes saírem daqui muito bravos e ficamos curiosos. Eles estavam muito nervosos!

RENATO: Fala assim pra sua mãe parar de ficar bisbilhotando a vida dos outros e ir cuidar da vida dela!

LUIZA: O que?! Eu vou contar tudo pra ela!!! (e sai pelo corredor puxando a irmã)

RENATO: (Renato fica falando sozinho) Que mulher fofoqueira! Tenho certeza que ela vai vir tirar satisfação, mas aí ela vai ver só!. (O pastor e a família tocam a campainha e Renato vai atender) FORA DAQUI SUA… Pastoooor?!

PASTOR: Graça e paz, irmão Renato. Boa noite. Chegamos em uma hora ruim?

RENATO: Nããão pastor, que isso? Por favor, entrem, fiquem à vontade (o pastor e a família entram)

CAROLINA: (entra seguida pelos filhos) Renato, será que a gente fez certo expulsando nossa… pastores!! Que alegria que vocês já chegaram! Venham vamos todos sentar em volta da mesa.

PASTORA: Mas que graça de casa arrumada! Ai, adoro o Natal, é um clima tão lindo, tão familiar! Vocês não acham delicioso esse clima familiar?

RENATO E CAROLINA: (se entreolham com peso na consciência) Sim!

PASTOR: Aliás, eu queria agradecer o convite. Faz pouco tempo que mudamos, conhecemos poucas pessoas e não tivemos condição de viajarmos pra ver a família. É muito estranho passar o Natal longe da família, vocês não acham?

RENATO E CAROLINA: (se entreolham com peso na consciência) Sim!

PASTORA: Filha, vai brincar (as crianças vão para um canto brincarem) Que lindo, já fizeram amizade! Nada melhor que um clima onde reina o amor, a comunhão, a união…

CAROLINA: Já chega! Já chega!! Deus revelou tudo pra eles! (começa a chorar escandalosamente)

PASTOR: O que está acontecendo? Deus revelou o que pra gente?

RENATO: Sabe o que é, pastor? Um pouco antes de vocês chegarem a gente meio que expulsou a nossa família daqui!

PASTORA: Vocês fizeram o que?!

RENATO: Nós expulsamos a nossa família. Sabe, a gente não queria que vocês tivessem uma má impressão. Acontece que meus pais são muito, muito, muito delicados... e o irmão dela não vale nada.

CAROLINA: Ah, tá bom! Sua família é cheia de santinhos e a minha que não presta?!

Carolina e Renato começam a discutir.

PASTOR: Calma, gente, vocês precisam ficar calmos, pelo amor de Deus!

CAROLINA: Ai que vergonha! Me desculpa, pastor, tenho certeza que na casa do senhor essas coisas não acontecem. Tenho certeza que lá todos ficam sorrindo o tempo todo, lendo a Bíblia e louvando a Deus.

Os pastores caem na gargalhada.

RENATO: Ué, agora é a gente que não tá entendendo nada.

PASTORA: Se vocês acham que a casa de um pastor é assim, você estão enganados.

PASTOR: Nós somos seres humanos, nós também temos problemas, discussões, desentendimentos, tudo isso é normal. Mas depois, fazemos as pazes e pedimos perdão.

PASTORA: Pra vocês terem uma ideia, levou dez anos pra minha mãe aceitar que eu ia casar com um rapaz crente. Mas depois de um tempo, todos eles também foram pra Igreja.

PASTOR: A família é a primeira instituição que Deus criou e é da vontade dele que nós convivamos na família, mesmo que existam diferenças. A família é tão importante que o Salvador veio ao mundo através de uma família.

PASTORA: A vontade de Deus é todos possamos ter pessoas ao nosso lado para amarmos e para sermos amados também, para isso Ele criou a família.

CAROLINA: Nossa! E o que vocês dizem sobre o que nós fizemos com a nossa família?

PASTOR: Olha, sem querer ser rude, mas vocês erraram e deveriam pedir desculpas para eles. Não façam como eu. Quando eu quis pedir desculpas pro meu pai, já era tarde demais!

RENATO: Por que? Ele morreu?

PASTOR: Não, era tarde e ele tinha ido dormir, tive que esperar o outro dia.

PASTORA: O que acham da gente fazer uma oração pra que Deus venha conduzir toda essa situação da melhor forma?

Todos dão as mãos e oram.

PASTOR: Senhor, abençoe esta família. Ajude-os a encontrarem uma solução para esse conflito, para que eles possam conviver em amor e união. Que reine aqui a paz de Cristo e a presença do Espírito Santo. Em nome de Jesus!

TODOS: Amém!

A campainha toda e Renato vai atender

RENATO: Mamãe, o que a senhora está fazendo aqui?

ZORAIDE: (entra seguida de Jurandir) Nós esquecemos nossas malas aqui. Além disso, uma hora dessas a gente não acha um taxi, um Uber, um cristão pra conseguir ir embora, então a gente veio saber se vocês podem pelo menos nos dar uma carona pra casa.

CAROLINA: Dona Zoraide, por que a senhora não faz melhor e fica pra ceia? Aliás, queria pedir desculpas pelo que eu fiz.

ZORAIDE: Run! Vou pensar no seu caso!

JURANDIR: Zoraide, não seja ruim. A moça admitiu que errou e nós temos que admitir que erramos também, afinal de contas já diz o ditado, quando um não quer, o espeto é de pau… quero dizer, o ferreiro não quer espeto de ferro… quando o ferreiro quer, o espeto não briga… enfim. Nós aceitamos o convite, minha filha, e nos desculpe por destratarmos sua ceia.

AGNALDO: Será que tem espaço pra mim também?

RENATO: Agnaldo?! Você não tinha ido embora?

AGNALDO: Embora pra onde? Eu não tenho onde ir!

RENATO: Tudo bem, entra, e me desculpe por termos te colocado para fora.

AGNALDO: Eu desculpo, mas que não aconteça de novo… brincadeira, brincadeira!

Solange vem pelo corredor trazendo as duas filhas. A campainha toca, Renato vai atender.

RENATO: Ué, quem será? Já estão todos aqui.

SOLANGE: Quero saber por que você brigou com os meus dois anjinhos!!!

RENATO: Dona Solange, o que a senhora acha de passar a Ceia de Natal com a gente?

SOLANGE: Mas é claro que eu aceito!

Zé está passando pela rua, com seu apito.

RENATO: Você quer vir passar o Natal aqui em casa também, Zé?

: Achei que não ia mais convidar! [joga o apito e o colete para o alto]

PASTORA: Que lindo! Nada melhor que uma casa cheia da família e dos amigos para comemorarmos o nascimento do nosso Salvador.

AGNALDO: Nascimento do Salvador? Como assim?

RENATO: Bem eu vou deixar que o pastor explique a todos o verdadeiro sentido do Natal.

Todos se sentam em volta da mesa, toca uma música e as cortinas se fecham. Abre as cortinas

JURANDIR: Como é lindo entendermos o verdadeiro sentido do Natal. Mas, agora, vamos todos cear, afinal de contas já diz o ditado: saco vazio…

TODOS: Não para em pé!

JURANDIR: Eu ia falar exatamente isso!!

As cortinas se fecham e abrem novamente com todos de mãos dadas.

FELIZ NATAL!!!


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