Isaque!

Ele aguardava impaciente a alguns metros de distância. Andava para lá e para cá; sentava...  tornava a levantar-se e a repetir o rumo: para lá e para cá, para depois sentar-se novamente. O sol raiva com força para fora da cortina da tenda, embora o dia já estivesse para acabar; seus olhos contemplavam o horizonte.

De repente ouviu-se mais um grito de horrenda dor; ele tornou a levantar-se, mas agora para se dirigir à porta da tenda, de onde ele esticou o pescoço para espiar. A tenda estava movimentada, as cortinas mexiam-se, mas a cortina estava fechada e só dava para se perceber a silhueta das servas que, com cuidado, tinham a situação sob controle.

A ansiedade crescia a cada novo grito que ele ouvia. A tenda parecia ser pequena para conter-lhe; seu peito parecia ser pequeno para conter o coração tão acelerado; até mesmo a túnica parecia lhe incomodar. De todo o tempo em que ele havia esperado, aquelas horas foram as mais longas, pareciam ser infinitas e não terem fim.

Então ele saiu da tenda, e aproximou-se de onde os gritos vinham, eles eram cada vez mais fortes, e mais intensos, expressando uma dor agonizante. Uma serva saiu da tenda, e ele pôde ver brevemente o que se passava lá dentro: Sara deitada, agonizando de dor, num parto muito complicado. A serva tornou a entrar na tenda.

Ele estava indeciso: entrar ou não entrar? Ora ele dava passos em direção a tenda, ora ele voltava. Talvez se ele pudesse ajudar, mas suas mãos já não eram tão destras como quando ainda estava jovem. Mesmo assim, talvez ele pudesse dar algum apoio, mas já era tarde... Ele ouviu o choro de uma criança romper o céu.

Ele abriu a cortina da tenda, e viu... Ah, ele viu! Ainda todo ensanguentado, e ele chorava. Abraão tomou a criança em suas mãos. Tão pequeno, tão frágil e delicado, cabia na palma de suas mãos, totalmente dependente de seu cuidado e de sua atenção. Ele ainda o contemplava, quando uma das servas perguntou:

- É um menino, meu senhor. Qual será o nome?

- Deus me tem feito riso – Sara interrompeu rindo, mesmo estando exausta, ofegante – Quem diria a Abraão que Sara lhe daria de mamar a filhos? Pois lhe dei um filho em sua velhice, todo aquele que o ouvir se rirá comigo – ela chorava de alegria.

Abraão saiu da tenda com o menino nos braços, antes que qualquer serva quisesse toma-lo para lava-lo das manchas de sangue. O sol já estava se pondo, quando ele se distanciou do acampamento das tendas e se colocou a olhar para o oeste. Abraão precisava disso, de um momento dele com seu filho. Ele precisava contemplar o cumprimento da promessa.

Ele era de pele tão branca, e agora não chorava mais, mas mantinha os olhos bem abertos; olhos escuros que lembrava a Abraão aquele céu escuro e estrelado onde, um dia, Deus havia lhe feito uma promessa. Agora, com a criança nos braços, era fácil de crer, mas nem sempre fora assim; e acreditar que ele, já velho, teria uma geração de filhos incontáveis como as estrelas fora uma tarefa difícil, bem difícil, mas que valeu a pena. Sem suas mãos estava a primeira estrela de uma constelação de muitas outras.

- Está aqui. Cumpriu-se! O SENHOR Jeová é fiel em tudo o que fala. Prometeu ao seu servo um filho, e hoje o cumpriu. Agora, meu filho, todas as famílias da terra, do oriente ao ocidente, serão abençoadas por sua existência – disse Abraão, como se dialogasse com o menino que, sem entender nada, contemplava ao pai.

- Os fracos serão revigorados – ele prosseguiu – os abatidos terão o ânimo duplicado, os doentes serão sarados, e a tristeza não terá lugar quando se ouvir que Abraão tem um filho em sua velhice, e que Sara, a estéril, deu descendência ao seu senhor. Porque não há impossíveis para Jeová, Ele tem os povos em Suas mãos, e cumpre todas as Suas palavras. E todas as tribos da Terra se alegrarão e rirão ao se ouvir seu nome: Isaque!

“Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor.” Salmos 27:14

Deus abençoe!!