Sem rumo... Sem destino...


- Pra onde você está indo?
- Pra minha casa, você sabe.
- Não é disso que estou falando...
Eriberto hesitou por um instante. A porta era muito convidativa, mais dois passos e ele estaria na rua novamente, tomando o rumo que quisesse, sem ninguém pra lhe ficar enchendo a paciência, querendo controlar a vida que era dele, somente dele e de mais ninguém. Mas, de alguma maneira, ele sentiu que deveria ficar.
Ele, então, apenas virou-se e contemplou o amigo. Não mudara nada, mesmo com o passar dos anos...
- Pra onde você está indo?
- Oh, por favor... vamos poupar os discursos e os sermões. Apenas permita que eu volte pra minha casa.
- Olhe pra você, Eriberto. Olhe pra dentro de si. Assuma: você está sem rumo.
Eriberto deu de ombros novamente. Mas, decidiu enfrentá-lo.
- Por que? Por que você diz isso? Só por que não segui na sua “igrejinha”? Só por que não vou aos cultos, não levanto minhas mãos para dar “glórias”? Por isso? Me poupe, Cássio... eu fui muito tempo na Igreja, e quer saber? Me encontrei fora dela!
Eriberto voltou-se para a porta novamente, e agora chegou a abri-la.
- Bom, se você se encontrou não deveria ser tão difícil me responder pra onde vai.
A porta fechou-se novamente.
- Tudo bem, vou entrar no seu joguinho... o que você quer que eu faça? Que eu chore? Implore dizendo que minha vida está um caco? Você quer que eu me humilhe aqui, no hall de sua casa? Hein? RESPONDA-ME!
Cássio permaneceu em silêncio. Desceu os últimos degraus da escada, segurou Eriberto pelos dois braços.
- Qual seu destino, meu velho amigo?
Eriberto não esperava por isso. Teve de conter-se para não se emocionar frente ao amigo que, por tantas noites, ouvira de suas aflições. Mas que, nos últimos anos, havia se distanciado. Ou ele havia se distanciado? O que importa? O importante era manter-se firme, e não baixar a guarda.
- Me solte, por favor. Vou pra minha casa.
Cássio soltou-o. Eriberto, novamente, abriu a porta da frente da casa e disse, por cima dos ombros:
- Prometo que não demorarei pra devolver esse dinheiro, é que preciso muito mesmo. Não me leve a mal, Cássio, eu não consigo ter a mesma fé que você.
A porta fechou-se.
Já na rua gelada, Eriberto fechava o zíper da jaqueta, e pensava em tudo aquilo. Ele sabia, no fundo, que Cássio estava certo. O tempo todo. Mas não daria o braço a torcer. De maneira alguma.
Naquela noite, Eriberto não foi para casa. Ele não sabia para onde ir...

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” João 14:6
Deus abençoe!!

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