Vaidade

Flor. Linda flor. E meio a todo aquele campo verde, ela era a única flor. Suas pétalas eram brancas, e seu pequeno miolo amarelo. Ah, como era bonita aquela flor. Graciosa e simples, mas transbordava dela uma beleza única, que somente as flores têm. Em todo aquele campo verde, ela era a única flor.

Aquele campo era um campo de futebol de uma faculdade, e sempre era passado nele o cortador de grama, mas aquela pequena flor era vitoriosa. Não se sabe o porquê, mas se sabe que ela estava ali, venceu o cortador de grama e estava ali, prevalecendo com sua beleza. Nem o rei mais sábio vestiu-se como esta pequena flor.

Flor estava sentada em um degrau de uma escada, observando tudo. Ela estudava naquela faculdade, e estava pensando em alguns acontecimentos corridos com ela. Estava começando a faculdade agora, acabara de sair do Ensino Médio, e algumas coisas eram diferentes, coisas estas que ela ainda estava se adaptando.

Apenas uma coisa não tinha mudado: sua beleza. Mesmo na escola todos admiravam sua beleza, bem, as meninas invejavam e os meninos disputavam para saberem quem sairia com aquela garota tão bela. Agora na faculdade, mais pessoas ainda poderiam admirá-la, contemplá-la, isso a satisfazia.

Em certo momento, Flor olhou para aquela pequena forma de vida, ali naquele campo de futebol. Aquela humilde flor que ali encontrara uma maneira de viver. Flor contemplou suas pétalas, seu miolo, suas folhas, e riu. Riu dentro de si, sem que ninguém notasse. Flor riu daquela pequena flor.

-Que pequena flor burra, pensou consigo. Talvez ela possa pensar consigo que é a única flor em meio a todo este campo de futebol. Talvez ela pense consigo que sua beleza é a mais ofuscante de todas as outras flores, mas ela só pensa isso porque não conhece as outras flores. Talvez ela pense que só ela é bonita, e que não existe nenhuma outra flor tão bela quanto ela.

E ela continuou seu pensamento – Que pequena flor burra! Tão bela e tão burra! Era que ela não entende que existem muitas outras de sua mesma espécie? Será que ela não entende que realmente é bonita, mas que existem outras mais bonitas que ela? Coitada! Amanhã vem o zelador, passa a máquina e toda a sua beleza vai com ela. Tão bela e tão burra!

Neste momento, Julio a chamou. Ah, o Julio... O garoto mais bonito e cobiçado de toda a faculdade. Todas as meninas já tinham perguntado para ela se eles dois tinham alguma coisa, e ela tinha dito que “ainda não”. Agora, quando ele a chamou, seria a oportunidade certa para começar, e deixar todas as meninas com mais inveja ainda, assim como ele faria com os meninos.

Ela levantou-se. Olhou para ele estranhamente, como se não soubesse o que havia acontecido. Caminhou em sua direção e, depois de alguns segundos, os dois já caminhavam de mãos dadas por todo o campus da faculdade. Todos observavam eles dois. Eles tinha toda a glória daquela faculdade.

Deus olhou tudo isto. Deus olhou tudo isto e, diferente de Flor, não riu dentro de si. Deus olhou tudo isto e entristeceu-se. Entristeceu-se dentro de si. Entristeceu-se em pensar que as pessoas ainda tão tanto valor para aquilo que é mais passageiro na vida. Beleza, glória, status, tudo isto é o mais passageiro em nossas vidas, mas todos tão valor.

-Coitada! Tão bela e tão burra! Talvez ela possa pensar consigo que ser bonita e ter glória são as coisas mais importantes desta vida. Talvez ela pense que sua beleza é a mais ofuscante de todo este campus, mas nem conhece todas as meninas que nele estudam, e que são mais bonitas.

-Será que ela não sabe que sua beleza é passageira? Será que ela não sabe que em todo este mundo existem mulheres mais belas e mais elegantes que ela? Será que ela não entende que amanhã o tempo passa e que sua beleza vai com ele? Será que ela não entende que seus dias são como nuvem? Será que ela não entende que tudo é vaidade?

“Quanto ao homem, os seus dias são como a erva, como a flor do campo assim floresce. Passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não será mais conhecido.”

Salmos 103:15-16