O dia estava começando. O sol
nascia lentamente no horizonte do mar, enquanto as ondas permaneciam em seu
ritmo imparável. O céu começava a apresentar suas melhores cores: o laranja
entrava em contraste com o azul da noite e, aos poucos, a luz penetrava a
densidão da noite.
As ondas, então, perdiam a força
aos poucos, enquanto a brisa do mar escoava e a maré baixava. A areia, que
outrora era agredida pela água salgada, e molhava-se, era, aos poucos,
alcançada pelos raios de sol e, lentamente, ia secando, formando um interessante
sombreado entre areia molhada e areia seca.
Um cenário de se tirar o fôlego.
Enquanto um lindo espetáculo se encenava no céu, onde as trevas rendiam-se ao
poder da luz, ninguém se encontrava para presenciar tamanha cena e deslumbrar
desta grande obra do Salvador, a não ser aquela pequena mulher que andava na
praia.
Talvez ela estivesse procurando
conchas para colecionar, como muitos fazem quando viajam para o litoral, ou,
quem sabe, ela estivesse praticando um pouco de exercício, caminhado à beira do
mar, ou, então, ela estivesse ali simplesmente para assistir o amanhecer na
praia... Mas certamente ela não estava ali por nada disso.
Um lindo amanhecer estava à sua
frente, mas ela não percebia nada que acontecia à sua volta. Sua mente estava
tão atribulada que nem mesmo o brilho do sol, que a este tempo já ganhara
força, a despertava de seus pensamentos profundos. Quem poderia desafoga-la de
suas preocupações?
Até que, de repente, ela
sentou-se em uma pequena duna que o vento formara na areia. Nunca se sentira
assim, afinal, ela jamais imaginaria que seu esposo a deixaria sozinha para
educar os três filhos que eles tinham. Foram dez anos de união, até o momento
em que ele se envolveu em um adultério e decidiu abandonar sua verdadeira família.
Ela ainda não sabia se chorava de
tristeza e desnorteio, se chorava de raiva e indignação, se brigaria, se
lutaria... Ela não sabia de nada. E nem mesmo chorar ela não podia, para não
demonstrar aos filhos, que ainda não sabiam de nada. Por vezes ela pensava em
como contar esta triste notícia aos filhos, ela muito temia a reação deles.
Algumas vezes ela pensava que
eles a apoiariam, outras ela acreditava que eles o seguiriam e a abandonariam
também. Nada era certeza, a não ser um fato que martelava em seu coração: ela
estava sozinha. Seus pais já haviam falecido há muitos anos, e ela era filha
única.
Seus parentes nunca a procuraram
muito, e não a procurariam, ainda mais agora que ela seria o motivo das
chacotas quando a família se reunisse, onde suas tias diriam que ela não fora
uma boa esposa e seus tios concordariam, tudo para evitarem eles as discussões
dentro de seus lares.
Mas nada mudava sua situação. Ah...se
tudo pudesse ser apenas um pesadelo horrível e, de repente, ela acordasse em
seu leito, com seu esposo ao lado. Ah... como seria bom se uma solução caísse
do céu e todos os problemas desaparecessem, quem sabe assim ela seria feliz de
verdade, como nunca fora antes.
O azul já predominara no céu, a
noite havia passado e um novo dia já estava começando. Ela estava tão
desanimada e abatida que deitou na areia. Por certo momento ela sentiu-se
tentada a rolar na areia, como fazia quando era criança, mas seu medo e sua dor
a impediram de realizar tal façanha.
Até que ela viu ao longe os
pássaros que voavam tranquilamente pelo céu. Como ela queria ter dentro de si
tamanha tranquilidade também! Ah, se ela pudesse! Deitada ali na areia da
praia, ela lembrou-se, então, de trecho da Bíblia que ela lera quando ainda
frequentava a Igreja. Este trecho dizia:
“Por isso vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que
haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo
que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do
que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, e nem segam, nem
ajuntam em celeiros, e o vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito
mais valor do que elas? Mateus 6:25-26
Ela havia abandonado Deus, mas
Ele ainda estava ao seu lado. Ela não merecia tamanha graça, e ela sabia disso,
e mesmo assim esta graça a alcançou, de uma maneira tal que nunca havia
acontecido antes. Enfim, a paz que parecia estar naqueles pássaros invadiu seu
coração; uma paz que excede todo entendimento.
Ela estava decida a voltar para
os braços do Pai, e deixar que Ele conduzisse sua vida como conduzia antes. E,
quanto à sua situação, nada mais a abalava. Ela tinha a certeza do poder e da
misericórdia de Deus à seu favor.
Ah! Deus é tremendo! Mesmo sendo
o Grande Rei de toda a Terra, não se importa de usar a sua humilde criação para
consolar o coração aflito; está de braços abertos para os que se arrependem de
seus erros e buscam a Sua face, pois o Seu amor é infinito, capaz de consolar
os contritos e sustentar os pássaros.
Deus abençoe!!
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