Vida... nas asas de um pássaro!


O dia estava começando. O sol nascia lentamente no horizonte do mar, enquanto as ondas permaneciam em seu ritmo imparável. O céu começava a apresentar suas melhores cores: o laranja entrava em contraste com o azul da noite e, aos poucos, a luz penetrava a densidão da noite.

As ondas, então, perdiam a força aos poucos, enquanto a brisa do mar escoava e a maré baixava. A areia, que outrora era agredida pela água salgada, e molhava-se, era, aos poucos, alcançada pelos raios de sol e, lentamente, ia secando, formando um interessante sombreado entre areia molhada e areia seca.

Um cenário de se tirar o fôlego. Enquanto um lindo espetáculo se encenava no céu, onde as trevas rendiam-se ao poder da luz, ninguém se encontrava para presenciar tamanha cena e deslumbrar desta grande obra do Salvador, a não ser aquela pequena mulher que andava na praia.

Talvez ela estivesse procurando conchas para colecionar, como muitos fazem quando viajam para o litoral, ou, quem sabe, ela estivesse praticando um pouco de exercício, caminhado à beira do mar, ou, então, ela estivesse ali simplesmente para assistir o amanhecer na praia... Mas certamente ela não estava ali por nada disso.

Um lindo amanhecer estava à sua frente, mas ela não percebia nada que acontecia à sua volta. Sua mente estava tão atribulada que nem mesmo o brilho do sol, que a este tempo já ganhara força, a despertava de seus pensamentos profundos. Quem poderia desafoga-la de suas preocupações?

Até que, de repente, ela sentou-se em uma pequena duna que o vento formara na areia. Nunca se sentira assim, afinal, ela jamais imaginaria que seu esposo a deixaria sozinha para educar os três filhos que eles tinham. Foram dez anos de união, até o momento em que ele se envolveu em um adultério e decidiu abandonar sua verdadeira família.

Ela ainda não sabia se chorava de tristeza e desnorteio, se chorava de raiva e indignação, se brigaria, se lutaria... Ela não sabia de nada. E nem mesmo chorar ela não podia, para não demonstrar aos filhos, que ainda não sabiam de nada. Por vezes ela pensava em como contar esta triste notícia aos filhos, ela muito temia a reação deles.

Algumas vezes ela pensava que eles a apoiariam, outras ela acreditava que eles o seguiriam e a abandonariam também. Nada era certeza, a não ser um fato que martelava em seu coração: ela estava sozinha. Seus pais já haviam falecido há muitos anos, e ela era filha única.

Seus parentes nunca a procuraram muito, e não a procurariam, ainda mais agora que ela seria o motivo das chacotas quando a família se reunisse, onde suas tias diriam que ela não fora uma boa esposa e seus tios concordariam, tudo para evitarem eles as discussões dentro de seus lares.

Mas nada mudava sua situação. Ah...se tudo pudesse ser apenas um pesadelo horrível e, de repente, ela acordasse em seu leito, com seu esposo ao lado. Ah... como seria bom se uma solução caísse do céu e todos os problemas desaparecessem, quem sabe assim ela seria feliz de verdade, como nunca fora antes.

O azul já predominara no céu, a noite havia passado e um novo dia já estava começando. Ela estava tão desanimada e abatida que deitou na areia. Por certo momento ela sentiu-se tentada a rolar na areia, como fazia quando era criança, mas seu medo e sua dor a impediram de realizar tal façanha.

Até que ela viu ao longe os pássaros que voavam tranquilamente pelo céu. Como ela queria ter dentro de si tamanha tranquilidade também! Ah, se ela pudesse! Deitada ali na areia da praia, ela lembrou-se, então, de trecho da Bíblia que ela lera quando ainda frequentava a Igreja. Este trecho dizia:

“Por isso vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, e nem segam, nem ajuntam em celeiros, e o vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? Mateus 6:25-26

Ela havia abandonado Deus, mas Ele ainda estava ao seu lado. Ela não merecia tamanha graça, e ela sabia disso, e mesmo assim esta graça a alcançou, de uma maneira tal que nunca havia acontecido antes. Enfim, a paz que parecia estar naqueles pássaros invadiu seu coração; uma paz que excede todo entendimento.

Ela estava decida a voltar para os braços do Pai, e deixar que Ele conduzisse sua vida como conduzia antes. E, quanto à sua situação, nada mais a abalava. Ela tinha a certeza do poder e da misericórdia de Deus à seu favor.

Ah! Deus é tremendo! Mesmo sendo o Grande Rei de toda a Terra, não se importa de usar a sua humilde criação para consolar o coração aflito; está de braços abertos para os que se arrependem de seus erros e buscam a Sua face, pois o Seu amor é infinito, capaz de consolar os contritos e sustentar os pássaros.

Deus abençoe!!

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