O sol espargia seus raios pálidos sobre o céu,
enquanto o vento gelado do inverno de julho soprava com grande veemência. O céu
era de um azul claro, com algumas pintas brancas: nuvens tímidas que não
ousavam opor-se ao clima seco típico da época. Um dia daqueles que passa
despercebido em nosso calendário.
O terreno era de matos um tanto altos com algumas
flores campestres espalhadas em certos pontos; formava-se um colorido
alegremente triste pela falta de chuvas. No centro de tudo estava uma imponente
árvore, grandiosa, carregada de folhas, dona de todo o pedaço. No meio de todo
este cenário espetacular passava um caminho mal definido, torto, mas que era
utilizado por qualquer pessoa que por ali atravessasse.
Mas era exatamente por este caminho mal formado que
transitava a bicicleta do garoto. Desnorteado dos sentidos, ele já não sabia em
que pensar. Embora o gelado do dia mostra-se seu poder a todos, brotava-lhe o
suor do seu rosto magro de menino novo. O caminho por onde os pneus de sua
bicicleta passavam, alçava uma grande parede de pó, e ele já podia sentir o
cheiro do bosque invadir-lhe o olfato.
Ele estava muito confuso! Acabara de descobrir que
seu pai está com um câncer e que, talvez, terá apenas dias de vida. Mas o que
seria dele se seu pai morresse? Sua mãe já o deixara logo após o nascimento, e
agora ele perderia o pai também? Ele já imaginava os dias que passaria na
solidão, sem ninguém para contar alegrias, dividir tristezas, ninguém para
compartilhar sobre a primeira namorada, o primeiro carro, o primeiro emprego.
Sem ninguém!
Já imaginava os próximos Dias dos Pais, onde todos
visitariam casas trazendo em suas mãos presentes belos, mas ele teria de
visitar o túmulo, trazendo em sua mão flores indiferentes, em seus olhos lágrimas
frequentes e em seu coração a tristeza tão corriqueira.
No calor de tantos pensamentos e dúvidas ele parou.
Parou perante aquela imperativa árvore. Talvez fosse momento de acuar e
repousar. Deixou sua bicicleta de lado e pôs-se à sombra, para descansar um
pouco. Ele queria fugir de todos aqueles pensamentos, fugir de toda
preocupação, mas seria possível descansar enquanto tudo isso lhe acontecia?
Recostou a cabeça no pé do tronco, fechou os olhos
por um curto espaço de tempo, voltou a abri-los. Focou a visão num galho da
árvore, onde estava pendurada uma folha. Numa rajada de ventos e em poucos
segundos a folha soltou-se do galho, como quem se despede da família para vagar
o mundo.
O Vento conduziu a folha, fazendo-a bailar livremente
pelo céu, até que foi caindo, caindo, caindo e deitou-se em cima do bolso do
garoto. Como num estalo, veio-lhe à mente um papel que recebera há dias atrás
de um grupo de jovens, e que ainda estava no bolso do short, esperando o
momento certo para ressurgir. Tirou-o; trazia umas palavras:
“ Uma voz diz: Clama; e alguém disse: que hei de clamar? Toda a carne é
erva e toda a sua beleza como a flor do campo. Seca-se a erva, e cai a flor,
soprando nela o Espírito do SENHOR. Na verdade o povo é erva. Seca-se a erva, e
cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente” Isaías 40:06-08
Sua perna bambeou. Ele tinha certeza de que aquelas
palavras tinham sido escritas somente para ele. Se a palavra de Deus permanece para sempre, ele
pode descansar, pois somos todos como a folha, breves e passageiros, e todas as
nossas aflições são da mesma forma, mas a Palavra de Deus é eterna.
Seu coração pulsou tão rápido, como se estivesse
nascendo de novo, e lágrimas floresceram de seus olhos, correram todo o seu
rosto e despencaram-lhe na blusa suja de terra.
Uma paz tão forte invadiu-lhe a mente e o coração, uma paz que ele não
poderia entender, mas que o tranquilizava. Sentiu-se abraçado. Agora ele pode
voltar para casa, porque sabe que, independente do que aconteça, Deus não o
abandonará.
Ah! Como Deus é tremendo! Esconde as coisas dos
sábios e inteligentes para revelar aos pequenos e humildes. Embora possa usar
majestosos anjos, usa uma folha, simplicidade complexa de Sua criação, para,
pelo Seu Espírito, consolar o coração daquele que está abatido de alma!
Deus abençoe!!
Aleluia!
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