A crucificação


Esta é apenas uma interpretação de um acontecimento bíblico que ocorreu em veracidade. Não estou impondo como verdade universal, pois a Verdade é a Bíblia.

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A multidão estava em silêncio. Todos, que outrora haviam gritado pedindo pela condenação, aguardavam ansiosos pela resposta que sairia do superior. Alguns murmuravam aqui, outros sussurravam ali, enquanto nada era confirmado.

E, entre todos os que ali estavam, estava o Réu. Aparentava ter muito mais idade do que os 33 anos que tinha; rosto cansado e lábios cerrados. Nada tinha dito, e parecia que em silêncio iria permanecer; como um Cordeiro que, mudo, é conduzido ao seu lugar de morte, assim Ele aparentava ser. Seus traços eram fortes, mãos calejadas do trabalho, que agora estava unidas, por trás do corpo, cabelo e barba cumpridos. Como todos, em silêncio Ele aguardava o veredicto que mudaria Seu futuro.

Muitos do povo não estavam entendendo o que estava acontecendo, tinham sido conduzidos pela maioria, levados pelo calor do momento pediam a crucificação do Réu, e, às vezes, ouvia-se entre o povo: “mas o que Ele fez?” e a resposta vinha pronta “não sei, apenas peça por sua morte, assim entendem ser melhor os fariseus.” Porém, nenhum deles, nem mesmo os fariseus, ou os nobres, tinha ideia do que realmente estava acontecendo, apenas o Cristo.

Os céus pareciam limpos a olhos nus, mas estavam carregados. Legiões de guerreiros celestiais estavam preparavam-se em posição de guerra. Eles eram lindos: a couraça de cada um era resplandecente, e reluzia ainda mais com o brilho do sol, espadas ainda na bainha, e feições sisudas, nobres, mas sisudas. Mesmo com seus rostos fechados, ainda eram lindos os guerreiros, e enchiam todo o horizonte. Eles tinham apenas uma ordem que ressoara direto do Trono de Deus: nada fariam, a menos que Cristo desse sinal. E assim eles aguardavam.

Porém, se no céu a beleza era radiante, na superfície terrena o quadro era terrível. Toda a escória dos piores e mais horripilantes demônios se espalhavam por todos os lados. Abutres desprezíveis que alçavam voo de um lado ao outro, e outros que rastejavam por entre os pés dos que tudo assistiam; seres sem formato definido, negros como a noite, com olhos cor de sangue, que bufavam, espumavam e exibiam os dentes afiados, aguardando com ansiedade.

Até que o veredito saiu, e o Justo fora condenado culpado. As legiões angelicais estavam de prontidão, e os seres malignos saltaram de alegria de um lado ao outro. Pulavam euforicamente, empurravam-se, espumavam e mostravam as garras; os ousados olhavam aos céus e desafiavam os guerreiros celestes, que, calados, seguiam as ordens do Rei Soberano.

Conduziram Cristo para que ele fosse açoitado antes da crucificação. Nuvens de escuridão se levantaram sobre a cabeça do povo, e era grande o barulho do ruflar de tortas asas. Todos queriam ver a cena, todos queriam apreciar, de demônios insignificantes a príncipes da escuridão e do abismo.

 Torturaram Cristo. A cada chibata, um grito de extrema dor saia de sua garganta, e saltos de júbilo e alegria ouvia-se dos desprezíveis. E as legiões da luz aguardavam conforme mandado.

Nenhum anjo caído poderia tocá-lo, mesmo os príncipes; contudo, eles entravam nos soldados, possuindo-os, e batiam-Lhe; revezavam, para que todos pudessem ter a oportunidade de esbofeteá-Lo, e brigavam por seus lugares, todos queriam ter participação naquele momento de trevas. Blasfemavam de Seu nome, até que um deles tomou a coroa de espinhos e cravou-a com toda a força em Sua cabeça, batia nela para que não saísse, e babava sangue, mordia a própria língua, espumava, e gargalhadas malignas ressoavam por todos os lados.

As legiões dos anjos e guerreiros celestes permaneciam inertes, aguardando o momento em que Cristo daria o sinal, embora este momento parecia não mais chegar. Nada daquilo seria necessário se uma ordem viesse do Salvador, mas ordem nenhuma se via.

A nuvem negra de desprezo e escória começava a alçar voo. Cristo agora carregava a cruz, e, de cima, todos queriam vê-Lo neste momento de total desprezo e humilhação. O dia, que fora claro, agora tomava tons cinzas.

Os anjos aguardavam impacientes, mas imóveis. Bastasse um olhar de Jesus, e toda a escuridão seria detida; apenas um sinal e os anjos celestes desembainhariam suas espadas e aniquilariam toda aquela rele espiritual; mas nem um sinal foi visto da parte de Cristo. Ele ainda permanecia mudo, como cordeiro.

A cada momento, mais e mais abutres, morcegos e espíritos imundos juntavam-se a grande nuvem infernal, que agora tomava o céu. O dia estava começando a se tornar escuro quando começaram as primeiras marteladas nas mãos de Jesus, para fixa-Lo à cruz. Mais euforia, gritos e vivas demoníacos, mais garras a mostra e dentes expostos, e mais impaciência por parte dos guerreiros celestes.

Por certo momento o capitão das ordens da luz sentiu-se na obrigação de tomar alguma atitude, mas as ordens eram claras: o sinal teria de partir de Cristo, que nada fazia. Gritos horrendos de extrema dor e exaustão saíam da garganta do Príncipe da paz, mas nenhuma ordem de ataque, nem mesmo um olhar.

Se não bastasse todo o sangue que já havia jorrado de Si, mais gotas escorriam de suas mãos, e de cada uma das milhares feridas por seu corpo, que eram forçadas quando Ele impulsava pela dor dos cravos sendo furando suas mãos e pés. Então levantaram a cruz, e expuseram-No a vergonha. Sua condenação estava em cima de si, Ele era culpado simplesmente por ser o Rei dos judeus.

Os demônios bradavam, gritavam, estavam eufóricos; incitavam o povo a gritar: desça da cruz, salve-se a Si mesmo, Rei dos judeus; mas o Autor da vida nada fez, apenas olhou ao céu. Seus olhos foram de encontro com o chefe do exército, que logo cerrou seu punho na espada ainda na bainha, fazendo com que todos fizessem o mesmo. Seria agora o sinal esperado pelos guerreiros celestes? Eles estavam prontos para descerem, e, em poucos segundos, aniquilarem os anjos caídos.

Contudo, ao invés de sair de seus lábios uma ordem de ataque, tudo o que se ouviu foi: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem. Os guerreiros celestiais não podiam compreender: apenas uma ordem, e tudo estaria acabado, Ele não precisava padecer nada daquilo se quisesse, mas, de uma forma que os anjos não podiam entendiam, Ele escolhera a cruz e os cravos.

Então, depois de horas de urros de dor e sofrimento, Ele bradou: está consumado, e entregou Seu espírito, dando o último suspiro de vida.

Em alguma parte da nuvem de monstros demoníacos que tomavam o céu e escureciam o dia, asas tortas se abriram e esticaram ao máximo para alçar voo; era a própria encarnação do mal que a tudo assistira, a antiga serpente, o dragão enganador: Satanás. Num salto ele elevou-se aos céus, fitou a todos os guerreiros celestiais e, com sarcástico sorriso no rosto, mergulhou no chão, seguido por toda a nuvem de escuridão com ele. Era festa no inferno.

Muitos do povo bateram em seus peitos, condenando-se pelo ocorrido, mas tudo já estava consumado.

O capitão dos anjos desceu a receber Jesus. Ele tinha a paz no coração, mas não podia compreender o que tinha acontecido. E a única explicação de Jesus foi:

- Eu os amo demais para vê-los sofrer! As trevas não venceram; o amor venceu.


“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16



Deus abençoe!!

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