Filho do Rei

Eram pés sujos que passavam pelo caminho. Árvores tortas e sombrias balançavam com o falar do vento, enquanto aqueles pés traçavam a rota da pobreza. Sua vestimenta era apenas uma túnica, aquela que era vestida todos os dias da semana; os passos eram vagarosos e silenciosos, como quando passamos por alguém dormindo e fazemos o maior silêncio possível.

Ele sabia que algo diferente aconteceria naquela noite, e mesmo assim continuou o caminho, quando, desconhecida, uma flecha, que fora mergulhada em veneno, cruzou a sua direção, e varou-lhe o peito. Ele caiu imediatamente, e começou a sangrar, mas estava sozinho naquele caminho escuro.

Ah, desculpe-me. Permita-me contar esta história desde o começo, pois começando assim, pode parecer um pouco confuso.

Era um reino muito poderoso e conhecido, de u Rei cheio de Glória e Poder. Este Rei tinha um Filho, que era muito amado pelo Seu povo. Este Filho também era cheio de Glória e Poder. Este Rei tinha também um servo, que lhe era mui fiel. Este servo fazia tudo com muita dedicação, pois amava estar na Presença do Rei.

Um dia, quando era a hora dos servos se apresentarem diante do Rei, este percebeu uma abatimento em seu servo amado, e perguntou-lhe qual a ocasião que fora capaz de deixar este amigo íntimo tão entristecido.

- Oh, Soberano Rei. Envergonho-me de falar-lhe, mas não posso esconder aquilo que trago em meu coração. Fui seduzido pelo brilho maligno do Vingador de Sangue, aconteceu que não fui capaz de resistir à tamanha ilusão, e agora lhe devo um custo tão alto que ele cobra-me a vida. Não sei mais como fazer para pagar-lhe, sendo que já lhe dei todos os bens, e tornei-me pobre.

- Ah, servo amado, sabes muito bem dos conselhos que lhe dei para que não se envolvesses com o Vingador. Ele seduz a muitos, prometendo-lhes desejos carnais, belezas e glórias, mas nada do que diz é verdade, diria até que é o Pai da Mentira, e que agora te alcançou com ela.

- Entristeço-me muito – continuou o rei, e também me embraveço, pois dei-te muitas riquezas, e as desperdiçaste pagando esta dívida sem fim. Se não tivesses te envolvido, ainda serias rico, mas agora, neste lamentável estado, nada podes fazer para salvares a ti mesmo, e nada poderás, pois uma dívida assim só pode ser paga com sangue, com morte.

As palavras do Rei foram corretas, e o servo não poderia nem mesmo entristecer-se ou enraivecer-se, pois tudo o que fora dito era verdade, querendo ele ou não. E não havia mais nada a fazer, somente esperar pois, num momento ou em outro, o Vingador de Sangue, mataria aquele servo tão amado pelo seu Rei.

O servo acabar de sair da Presença do Soberano, quando este disse a Seu Filho:
- Muito triste isso, não. Embora eu falasse muito ao servo, não posso tomar as escolhas por ele, e, se ele decidiu iludir-se com os enganos daquele mentiroso derrotado, o que poderíamos fazer? Oh, se este servo soubesse o quanto eu o amo.

O Filho, que assistira a tudo, pois sempre estava sentado à direita do trono do Rei, por um momento ficou sem palavras, não sabia o que dizer. Os dias foram passando, e o servo estava cada vez mais pobre, às vezes ouvia o conselho do Rei, às vezes não, e o Vingador de Sangue ainda esperava para matá-lo.

Já era o fim da tarde, quando o servo foi chamado para ir até a presença do rei. Assim ele banhou-se, colocou as melhores vestes de serviço, perfumou-se para entrar perante o maior Rei de todos, semelhante não há. Ao entrar, foi surpreendido pelo sorriso do Rei, que lhe pediu para ficar até mais tarde naquele dia, trabalhando.

O servo trabalhou até tarde, muito tarde, e aquela lhe parecia ser uma noite muito estranha: primeiro uma de suas túnicas havia sumido, e segundo em certo momento, ele viu lágrimas escorrerem dos brilhantes olhos do Rei, mas ele não ousou perguntar nada. O vento parecia trazer crueldade em sua rajada, uma noite muito estranha era, mais escura que qualquer outra.

Eram pés sujos que passavam pelo mesmo caminho. Árvores tortas e sombrias balançavam com o falar do vento, enquanto aqueles pés traçavam a mesma rota de sempre. Sua vestimenta era apenas uma túnica; os passos eram vagarosos e silenciosos, como quando passamos por alguém dormindo e fazemos o maior silêncio possível.

Os ventos ainda lhe assustavam, quando ele viu algo muito estranho: em sua frente parecia ter alguém ferido. Ele correu em Sua direção. O Homem caído no chão estava vestido com a sua túnica, aquela que havia sumido, Ele estava atravessado por uma flecha, e todo o seu sangue foi derramado. Ao vira-Lo, a surpresa: era o Filho do Rei. A flecha, a túnica e a morte eram suas, mas quem decidira vivê-las por ele era o Filho do Rei.

Ele ficou sem movimentos, quando os servos reais vieram buscar o corpo para sepultá-Lo. Ele se fizera de pobre, sendo tão rico, para salvar um servo miserável, tudo por amor. Agora ele é livre, livre da dívida, da morte.... Livre, pelo precioso sangue do Filho do Rei.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16

Deus abençoe!

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