Festival do Céu: Capítulo IV - Surpresas...


Era sexta-feira a noite e casa estava toda apagada. Clarinha estava no quarto dela, e Ludovico no dele [provavelmente]. Rick descia às escadas em silêncio, e levou um susto quando dona Vera o surpreendeu.
- Preciso falar com você – ela disse.
- O que foi mãe?! – Rick disse ressabiado.
– Sabe, querido, eu estive pensando ultimamente e, bom, acho que estou... estava errada
 - Como assim?
- Errada em não apoiar a causa... o festival, a Igreja perseguida... Ai, tudo. Pedi pra Clarinha ler algumas coisas na internet sobre a Igreja Perseguida e eu não sabia que a situação era assim, tão terrível! Cristãos morrem por Jesus todos os dias, e a TV nunca fala nada... a gente só fica sabendo se procurar a informação.
Rick concordava com a cabeça, com aquela cara de: eu te avisei.
- Por isso, filho, eu quero ajudar vocês. Pra tudo o que vocês precisarem, e se eu puder, eu estou aqui, Rick. Conte com a mãe. Se for preciso fazer e vender pizzas, salgados... não sei o que vocês vão fazer ainda, mas quero ajudar. Quero poder ter participação na causa, e quero ajudar essas famílias.
- Obrigado, mãe. Obrigado mesmo. Vamos precisar da ajuda de todo mundo – ele disse, grato.
- Sabe, acho que todas as Igrejas deveriam se envolver... são cristãos que sofrem, gente como nós! E tem mais, a Bíblia diz em gálatas 6:10 o seguinte: “Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé.” – dona Vera lia de uma anotação que havia feito num caderno de orações - É nossa obrigação ajudar com oração, conscientização e até com dinheiro! Eles são nossa família da fé também!!
Rick abraçou novamente a mãe, com sorriso largo no rosto.
- É isso aí, dona Vera – ele disse brincando com a mãe – vamos nos unir e vamos conseguir ajudar aos nosso irmãos... Em nome de Jesus!
- Amém, meu filho. Amém!
***
Lorena esperava em pé pelo seu hambúrguer. A praça de Ilha Solteira às sextas-feiras à noite era sempre um pouco movimentada, mas naquele dia havia pouca gente ali. Ilha Solteira é uma cidade planejada no norte do Estado de São Paulo, divisando com Mato Grosso e, por ser planejada, é uma cidade muito linda [embora eu nunca tenha tido a oportunidade de estar lá]; e, caso você ainda não saiba, é nesta cidade turística que nossas personagens vivem.
O lancheiro entregou o hambúrguer a Lorena, que deu o dinheiro e esperou o troco. Ela virou-se pra sair e quase trombou com Clarinha, que estava correndo afobada pro carrinho. A garota correu fazer seu pedido e depois voltou.
- Ai, Lorena, desculpa, não tinha te visto aí.
- Não esquenta, Clara – Lorena disse, dando uma dentada no hambúrguer.
- Ai que droga, não queria encontrar vocês. Agora o Rick vai ficar pegando no meu pé falando que não é pra eu comer mais lanche. Ele vive fazendo isso! Aff...
- Vocês? – Lorena riu levemente – olha, não sei se você tá vendo coisas, mas só tem eu aqui, Clara, o Rick não tá aqui – e riu novamente, dando outra dentada no hambúrguer [falando assim, me deu fome].
- Ué, não?! Ele saiu de casa falando que ia se encontrar com você!
- Oi?! Como assim?! - Lorena até engasgou.
- Eu tava indo pedir pra minha mãe pra comprar um lanche e vi que ele disse que tava saindo de casa pra se encontrar com você, pensei que ele tivesse aqui – Lorena começou a olhar ao longe, Clarinha, que já tinha visto isso outras vezes, ficou sem graça – ah, já sei: vocês brigaram, você saiu sozinha e você não quis me contar. Desculpa, Lorena, eu não queria me intrometer no namoro de vocês.
- Não, Clarinha, fica tranquila – Lorena tentava esconder o que sentia com um sorriso mal feito, Clarinha percebia que as coisas não estavam bem [pra dizer a verdade, qualquer pessoa perceberia] – mas não foi isso não.
- Não?! Então se ele não está aqui, onde ele tá.
- Ele foi jogar bola... foi o que ele me disse.
- Nossa! Jogar bola?! O Rick odeia jogar bola – Clarinha disse, admirada – e tem outra, porque ele mentiria pra minha mãe dizendo que ia encontrar você? Muito esquisito isso!
- Exatamente. Você não percebeu nada de diferente nele esses últimos dias?
- Diferente? Tipo o que?
- Não sei.... bom, ele deu duas desculpas diferentes pra mim e pra sua mãe pra sair hoje... isso é esquisito.
- Bom... – Clarinha puxou na memória – ontem eu peguei o celular dele e ele ficou muito bravo, nunca ele tinha ficado assim por eu pegar o celular dele.
- Hm... será que tem alguma coisa lá?
- É, pode ser... sei lá...
As duas ficaram em silêncio por um tempo, fazendo companhia uma à outra, até que o lancheiro chamou Clarinha. Mas, antes que a garota saísse, Lorena pediu:
- Clara, por favor, não conta nada pra ninguém desse nosso papo, tá?
Clarinha acenou “sim” com a cabeça e foi.
***
Escondidos atrás de uma árvore feito bandidos, Pedro e Maikão tentavam se esconder de algo que deveria estar acontecendo do outro lado da rua [digo deveria porque não tenho muita certeza da procedência dessa informação].
- Mano, tu pirou né? Já faz uma meia que a gente tá aqui feito dois bandidos [eu disse!!!] e necas de pitibiriba!
- Arre égua, Maikão.... tu não leu o bilhete não?!
- Li, mas velho, sei lá... acho que essa sua cabecinha aí tá imaginando coisas até demais.
Pedro ficou pessoalmente ofendido.
- Em primeiro lugar: nunca diga nada de minha cabeça. Em segundo: vamos esperar só mais cinco minutos e se nada acontecer, vamos embora.
Maikão ficou sem graça, em silêncio.
- Não quis ofender quando falei de tua cabeça...
- Arre égua, eu disse pra não falar da minha cabeça!!!
- Mas mano, olha, eu não tô falando de cabeça física, ô lesado, eu tô falando de imaginação... velho, é ridículo o que a gente tá fazendo. Seria muito melhor, tipo, chamar o Rick e conversa com ele.
- Ah, claro, com certeza, pra ele negar na nossa cara?! Maikão, meu líder – Pedro o chamava assim quando queria dar uma de sabidão pra cima dele – tu acha mesmo que Rick ia assumir alguma coisa na nossa frente? Qualquer um no lugar dele iria negar.
- E se ele negar, não pode muito bem ser verdade? – Maikão indagou.
- Oxi, Maikão, e o bilhete que eu e tu lemos... não diz nada é?
- Ah, bom... sim, mas sei lá, velho, tô custando a acreditar... se fosse qualquer outro, sabe, até você, beleza, mas o Rick? Ele é filho do pastor, e eu conheço muito bem ele, e ela também, né, afinal ela é...
- Oxi!! – Pedro interrompeu indignado – Eu não acredito no que eu ouvi. Então se fosse eu tu aceitaria de boa?!
Pedro estava a ponto de explodir com o próprio líder [gente, não liga, ele é esquentado assim mesmo], mas ambos foram surpreendidos e esconderam-se atrás do Ypê novamente.
- Não disse pra tu. Tá aí a prova. Acreditas em mim agora?
Maikão foi ficando nervoso, nervoso, nervoso... até que não se aguentou. ele estava saindo quando Pedro o segurou.
- Doido, o que tu vais fazer?!
- Eu vou ir lá agora acabar com essa palhaçada e foi descer o braço. ME SOLTA!
- Tu não pode fazer um negócio desses não, doido!
- Você quer que eu fique só olhando?!
- Não... mas isso não resolve a situação... vamos embora, tu precisa esfriar a cabeça...
Com muito esforço, Pedro convenceu Maikão a ir embora e não descer o braço [em seja lá o que eles estivessem vendo].
***
Lorena voltava pra casa quando foi abordada; ela já estava a ponto de entregar a bolsa e a carteira quando percebeu que não era um bandido: era Flavinha.
- Menina, sua doida! – ela disse com coração disparado – quase que você me mata do coração.
- Ai bonita, desculpa, mas é que eu tô muito nervosa!! Eu descobri uma coisa que me arrasou!!! Eu tô destruída!! – Flavinha  fez uma pausa – ai, tem um copo de água?
“Abusada” Lorena pensou, e foi entrando. Nem tinha convidado a amiga a entrar ainda e ela já estava na sua sala. Lorena foi até a cozinha, e Flavinha a seguia.
- Mas fala logo, o que você descobriu?
- Bom, em primeiro lugar eu descobri que não adianta nada eu chamar você ou o Rick pelo celular que vocês não respondem, né? Mandei umas mil mensagens pra vocês no Whats.
- Ah, me poupe! – Lorena disse servindo um copo de água – não tenho mais pacote de dados pro celular, oras!
- E em segundo lugar, e é aí que vem a bomba, é que eu descobri que a gente, simplesmente, não pode realizar um festival de música!
- O que?! Como assim?! Por que não?!
- Ai, bonita, é melhor você sentar pra não cair!!!

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